Friday, October 31, 2008

Peço-te que me doas


Podíamos tentar
a vida.
Desflorar de novo
a fulgurante madressilva.
Acreditar que somos
par,
que fomos
feitos para amar.


Esquecíamos que o silêncio
permanece.
afluente cansado
sem rio onde desaguar.
Sílabas oxidadas
na pele,
acorrentadas
em grilhetas de papel.


Apesar de tudo,
a vida
no tempo das palavras
e das lágrimas nos rostos,
tinha um fulgor
de vento,
um sabor
a ti no firmamento.


Apesar de tudo,
a dor
não nos doía.
Cristalina e certa,
vinha doce e sem
segredos,
numa vertigem
calma de arvoredos.


E agora se te olho
e não te vejo,
quero que me doa
a tua carne na minha.
Ter o teu corpo de novo
tacteado,
que já só provo
num perfume de passado.


Vamos tentar
de novo, a vida.
Mesmo que seja loucura!
Mesmo que seja com dor,
vivamos iludidos a sublime
imperfeição
que nos define...
Onde está a tua mão?


O Nostálgico

1 comment:

Anonymous said...

Tens razão, lido com esta aprentação e na lucidez da manhã toda a interpretação é diferente. Dps da noite de palavras inebriantes que ontem vivi apenas me ocorre dizer que embora possamos fazer parte do mesmo arquipelago, nesta equação somos acima de tudo margens distantes com um rio que as separam... por muito que queira chegar até ti, não posso nem quero transpor esse rio.

De alguém que prometeu não comentar este poema no teu blog ;-)

Um beijo